quinta-feira, 8 de março de 2012

Rito hedônico

Estou indo ao seu encontro, nobre cavalheiro que insiste em visitar-me todas as noites.  Vou chegando delicadamente ao nosso mundo secreto e invisível. Pretendo falar-lhe. Agora sou conhecedora dos mistérios que envolvem esta tua presença constante. Enquanto todos os outros, tolos que são, estão inertes, entregues ao repouso dos corpos, você vem e reaviva minha existência, num lugar onde o teu corpo dá continuidade ao meu e nossas almas dançam numa simbiose magistral.
Hoje compreendo a magia do encontro dos nossos olhos. Os teus, sagrados, encantam os meus. Neste estado de graça, meu ventre fértil e abundante começa a gerar Lírios e Amores-perfeitos, enquanto tu, mensageiro dos deuses, observas com orgulho o cumprimento da tua missão.
Talvez ainda não saiba, mas ajardinar-me foi apenas um dos teus feitos. Vou te mostrar minhas asas, que também já começam a brotar. Ainda sinto um pouco de desconforto, mas ele é ínfimo diante da alegria radiante de poder voar. Trouxestes os ventos para mim, meu nobre cavalheiro. Tu, e somente tu, conseguiu adentrar meu âmago e conhecer os segredos que se escondem por detrás destas íris negras e reluzentes.
Agora preciso me calar, estou muito próxima de ti. Vou aquietar-me para que as profundezas acelerem meus passos e diminuam a distância até você, que me faz renascer a cada por do sol. Aguarda-me, que estou chegando.
De Ostera a Morfeu