terça-feira, 27 de dezembro de 2011

AMANHÃ, ÀS OITO

"Amanhã, às Oito", espetáculo de Conclusão do XXVI Curso Livre de Teatro da Universidade Federal da Bahia.

Com direção de Paulo Cunha e assistência de Marta Saback e Mariana Freire, a peça traz uma metáfora sobre as pessoas que passam a vida como espectadores de um espetáculo do qual deveriam ser os protagonistas. Dessa forma, sempre ficam à espera que tudo comece “Amanhã, às Oito”. A dramaturgia é baseada em cinco contos de Luís Fernando Veríssimo e na peça Esperando Godot, de Samuel Beckett.


Quando: 18/01/2012 a 05/02/2012. De quarta a domingo, às 20hs.

Quanto: Entrada gratuita.


Eu, vocês, todo mundo lá!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Ele já não estava mais lá

O corredor era longo e estreito, um lugar que lhe remetia àqueles estranhos filmes de suspense que assistia na infância. Cada passo lhe deixava mais aflita. Sentia-se, ao mesmo tempo, ansiosa e apreensiva com o encontro que estava prestes a acontecer. Tentava manter-se tranqüila, respirando fundo e pausadamente. Apertava as próprias mãos que choravam todo o seu temor. O coração doía, sendo destroçado por um sentimento que ela não sabia decifrar, apenas sentia e sentia-o muito forte, imponente e violento.

Agora ela estava lá. Assustou-se com uns ruídos estranhos que ouvia, mas isso ficou pequeno diante do que seus olhos viram. Não era ele! Onde ele estava? E agora? Como agir? Seu coração disparava mais a cada segundo que se mantinha diante daquele espectro, como se fosse explodir.  Era tudo muito terrível. Doloroso. Lutuoso. Ela sentia um desejo absurdo e descontrolado de atirar-se sobre ele e, assim, doar-lhe o máximo do seu próprio calor e da sua própria pigmentação. Era a única forma que ela imaginava trazê-lo de volta.

De repente aquele ser abriu os olhos e ela teve a esperança de poder reconhecê-lo, encontrá-lo confinado por ali, mas foi inútil. Suas íris estavam desbotadas, sem vida. Ela fitou-o com muita intensidade, numa tentativa inocente de devolver-lhe o mar que durante toda uma vida foi refletido ali. Ela esperou uma reação, que não veio. Vendo-se obrigada a dissimular qualquer sensação desconfortável, ela sorriu. Ofertou-lhe a única coisa sincera que poderia ter naquele momento. Acreditou que seu sorriso poderia dar a ele leveza e confiança, capazes de tirar-lhe daquela prisão. Ela queria deixá-lo feliz.

Segurou aquelas mãos geladas, contendo toda a emoção, e agradeceu-lhe bem baixinho. Não sabia se ele a escutava, mas ela não queria perder a última chance de dizer o quanto ele era importante para ela. Cada palavra saía com um sorriso e um olhar firme, fazendo dela uma pessoa mais corajosa. Fazendo dele, eterno diante dela.


Ao meu mestre, Marco Antonio Martins Barreto.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Velho Chico

Era um garoto/que como eu/ amava os Beatles/ e os Rolling Stones.
Girava o mundo /sempre a cantar/ as coisas lindas da América...

Essa música tem um significado muito especial pra mim. Enquanto, talvez, a maioria das pessoas tenha como lembranças de suas infâncias as cantigas de roda, comigo é diferente. Já dizia meu visionário pai: “você é toda ao contrário!" Pois é dele mesmo que me lembro ao ouvir essa música: nós cantávamos, fazíamos solos de guitarra, atirávamos uns nos outros, morríamos e, por fim, ressuscitávamos às gargalhadas. São as melhores imagens que tenho da infância.

Sinto uma saudade imensa do meu pai. Desde ontem fui acometida por um sentimento nostálgico em relação a ele, que me chamava de “minha picurrucha”. Lembrei dessa música, lembrei de outras tantas que tocavam na época em que convivi com ele, lembrei daquela ruazinha em que morávamos, do jardim cheio de hibiscos que era só nosso e do pé de amêndoas que eu e minha irmã adorávamos nos pendurar. Veio à memória, também, o amor que ele tinha às coisas terra e ao plantio de frutas e hortaliças no quintal de casa que nos fazia mais saudáveis do que somos hoje.

Ele não tinha muita paciência “Eli, Eli, lamá sabactâni” e era, também, bastante dramático. Igualzinho a mim! Disseram-me, certa vez, que tenho “o charme masoquista dos poetas”. Essa é a maior herança que tenho de meu pai. Ele era uma tarde chuvosa de sábado, elegante na sua dor, que, corajosamente, confinou-se em sua completude. Meu pai era poeta, meu pai era lágrima. Ele escolheu se enclausurar para ter a liberdade de uivar sua dor, solitariamente, a cada lua cheia. Só ela o entenderia.

Meu pai tinha olhos tristes e melancólicos, e os meus se reconheciam nos dele. Talvez ele tenha sido o meu parceiro nessa vida e vice-versa, mas o tempo não foi generoso conosco e, há quase cinco anos, ele está a léguas e léguas de distância de mim. Isso me entristece. Essa foto é a única imagem que tenho dele, alguns dias antes de partir para o infinito. Tê-la me alegra.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Mas hoje é dia de vibrar assim...

Na mãe que, no simples acordar, já te acalma. Na sobrinha que se joga nos teus braços. No abraço do anjo. Na colega de trabalho que irradia alegria. Na amiga que você escuta e confia. Naquela outra amiga, que é muito íntima. Hoje é para pensar no amor que te faz verdade. Na irmã que te procura sempre. Na prima que te orgulha. Nas outras que você acordou morrendo de saudade. Nas tias que te mimam. Nos perdões que pediu, nos perdões que recebeu, nos pessoas que você precisa perdoar, no se perdoar. No amigo que você ama, mas só se falam por telefone. Na amiga que mora na mesma cidade que você, mas passa a semana em outra cidade, coincidentemente a mesma que você também passa, mas que nunca se vêem e, mesmo assim, estão sempre unidas. Naquela amiga-irmã que mora em outro estado e que, há 10 anos, te queria como madrinha do casamento, mas você não pôde ir por falta de grana.
Em tudo que você tem a aprender no curso de teatro, nas construções dramatúrgicas que agora lhe inspiram, na sociedade com a amiga, no cartão de visitas dessa sociedade, na oficina de teatro que vocês vão fazer no sábado.
É dia de suspirar pelo futuro promissor, nas descobertas diárias, nas relações firmadas. Na solidariedade, na paz, na supremacia do amor... Hoje é dia de sonhar com os novos caminhos, de se abrir para os milagres da vida, de acreditar na regeneração humana, de se permitir viver em plenitude, de se revelar ao mundo, de mentalizar flores de lótus violetas, de clamar por transformação. Hoje é dia de se inspirar no bem, se conectar no bem, estar bem, fazer o bem... ser o próprio bem.

É mais ou menos assim

A que já foi primeira da classe e hoje não sabe ler. A mãe solteira, desempregada, que tem sua casa assaltada. O professor que privilegia os seus preferidos. A chefa que só tem duas funcionárias que prestam. Os dois ladrões que assustam com uma faca quatro crianças a caminho do parque. Os policiais que espancam outras duas crianças. As duas moças que sonham se tornar artistas, mas trabalham numa repartição pública decadente. A mãe que deixa a filha para poder cuidar da família. O jovem artista talentoso, órfão e desempregado. A menina que, todas as noites, tem pesadelos com a morte da mãe. A outra menina que finge ser a mãe morta. O viúvo que daria a vida para estar ao lado da amada. O amor do passado que diz: "bendita seja tu" e, no dia seguinte, lamenta. A grande amiga fútil e alienada. O amigo gay, que é mentiroso. Os que só enxergam a superfície. A mulher que não consegue cuidar do seu homem, que está sofrendo. Os que puxam saco quando algo admirável é feito. A que já foi cobiçada e, hoje, é invisível. Aquele outro professor, o lindo, que agora luta para se manter vivo. A que está com medo de meditar. E então?

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Como se fosse ontem

Finalmente estavam ali, um diante do outro. Ele, com olhos desejosos e imprudentes. Ela, com a tez enrubescida, ingenuamente sentia-se mulher. Estavam fascinados como quem contempla o despontar da aurora e ali, naquele espaço, todas as coisas faziam sentido.  O suor das mãos denunciava suas verdades mais íntimas e, naquele momento, eram perenes.

Sentaram-se. A janela entreaberta evidenciava o alaranjado do céu naquela tarde de início de outono, a estação que faz todos os amores possíveis. A atmosfera parecia congelada, um belo quadro feito artesanal e exclusivamente para eles, com uma grande árvore em alto relevo. A celeridade dele era refreada pelo receio dela, que tinha consciência de que se tratava de uma grande loucura, talvez a maior de sua vida, mas ali ela ensaiava timidamente os primeiros passos rumo à liberdade e qualquer desatenção a isso poderia custar-lhe uma vida rasa e insípida. Entregou-se.

Ele, de olhos fechados, acariciava sua pele e extasiava-se com a beleza e o encantamento que se expandia diante daquele ato. Era a primeira vez que suas mãos tocavam pétalas amarelas tão delicadas e viçosas. Ele fez daquele corpo um sol vibrante. Ela, com um ardor despudorado, convertia-o em rei. Impregnados de emoção e êxtase, fizeram de conta que seus destinos estavam amarrados por todo o sempre.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

FUBAZADA

A primeira coisa que se pensa ao fazer um curso renomado de teatro é que você vai conhecer pessoas fashions e que, finalmente, vai entrar para o high society, certo? Pois bem, as coisas não são bem assim. Como bem sabemos, os grupos sociais se formam por afinidade, logo, não adianta querer fazer parte de um grupo que não é o seu. Se você é fubá, você vai morrer fubá e só vai se relacionar com os tipinhos da mesma laia que você. Não adianta acreditar que vai ser diferente, essa é a lei da vida. Os ricos saem para se divertir depois da aula porque tem carro pra voltar pra casa. A fubazada vai junta para o ponto de ônibus, correndo, antes que o último passe. Os fashions estão sempre se divertindo, tocando violão, cantando (sim, os fashions, além de serem fashions, sabem cantar)... os fubás ficam de longe olhando, achando tudo bonito e morrendo de vontade de entrar na roda.

Enquanto as pessoas fazem piadas sobre diversas coisas, os fubás são a própria piada. Eles não precisam de nenhum artifício para serem engraçados, pois suas histórias e seus comportamentos dão pano pra manga em qualquer stand up comedy que se preze. Agora, conheçam essas criaturas e vejam se eu não tenho razão:




Keila – Essa não larga o ranço de pobre de jeito nenhum. Se vai na casa dos outros, tem vergonha de comer. Se come, corre para a pia e vai lavar os pratos. Se suja alguma coisa, passa o resto do dia pedindo desculpa... Parece uma crente.



 


Eloá - Cara de doida, jeito de doida... doida. Anda na rua com um chicote na bolsa, tem risada de doida, olhar de doida, andar de doida. Não se aproxime muito, ela é visceral... como uma doida! Ela é doida! Sem futuro...





Eduardyuri - Se fosse enumerar as fubazisses dessa criatura, passaria a vida inteira aqui. Pra começar, o nome artístico dele é Eduardo Yuri, isso mesmo. Depois, ele não consegue nem falar o próprio nome aí, sai proferindo Eduardyuri pra lá, Eduardyuri pra cá. Tem também Eduardimônica, caminhandicantandiseguindacanção, dentre outros. É um tabaréu daqueles, ô meu Deus, chega dá pena. Adorou descobrir a existência da água tônica. Adora, também, se aparecer... Ah, esqueci de falar do sex appeal dele, dá pra ver, né?  




Fernanda - Essa tem crise de identidade: se diz borboleta, mas todos chamam de abelha (isso quando não é mosquitinha, mosquinha, formiguinha, etc). A mãe não ensinou a se arrumar feito uma mocinha, aí sai por aí com calça de dormir, com cabelo sem pentear, com lenços velhos na cabeça... parece uma trombadinha e acredita que um dia vai ter uma chance com Johnny Deep ou Rodrigo Santoro. Tadinha, já disse pra ela se contentar com Eduardyuri, mas não quer me ouvir. É outra sem futuro...





Kátia -  Essa dispensa comentários: Diva luxo! Na verdade, está no grupo porque gosta de fazer caridade, tem pena dessas criaturinhas rejeitadas por todos os outros. Só de olhar dá pra ver que não tem a mesma estirpe dos demais, exala riqueza, beleza, poder e glamour. É praticamente uma Afrodite... ou Nefertiti... ou uma fusão muito bem feita das duas.

Tudo bem que adoro o abraço de Keila, e as dancinhas de Eloá. E que elas são super fofas e companheiras... Sim, eu também adoro Eduardyuri, apesar de que eu tenho vontade de bater nele quase todos os dias (ele faz tudo errado). Isso tudo sem falar de Abelha, que é a minha Abelhinha e não preciso comentar a minha admiração por ela, mas bem que eles poderiam não ser tão fubás, né?

Tá, tudo bem que eles são muito legais, que a companhia de cada um me faz muito bem, que nós nos divertimos muito quando estamos juntos, que posso contar com eles sempre e que o curso não seria a mesma coisa sem eles... percebo que o erro foi meu!

Agora, sem brincadeiras: obrigada, meus amores. Vocês me fazem feliz!

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Nostalgia

O texto a seguir eu fiz há bastante tempo para comemorar com os meus colegas e, ao mesmo tempo, homenageá-los quando completamos um ano de formados. Passei o dia pensando naquelas pessoas que conviveram comigo durante os quatro anos, que aturaram minhas mudanças de humor, minhas risadas escandalosas, meu jeito perfeccionista e exigente de ser, entre tantos defeitos e qualidades que foram desnudadas diante dos mais íntimos, principalmente do "sexteto que, entre sorrisos e lágrimas, embelezou a caminhada". Estou pensando neles desde cedo porque sonhei com Franciele. Eu sinto uma falta imensa dela. Como recordar é reviver, eis as mal traçadas linhas:



P.U.B.L.I.C.I.T.Á.R.I.O.S


Vocês já se deram conta de que dia é hoje? Não falo o dia da semana, falo o dia do mês, a data mesmo. Pois é, hoje são 25 de fevereiro. Exatamente um ano atrás, a essas horas, estávamos todos em polvorosa, com borboletas no estômago, esperando a tão sonhada cerimônia de colação de grau.

Ficamos pensando no caminho novo que iríamos trilhar e em como seria dali pra frente. Pensamos também no caminho que tínhamos acabado de passar, nos quatro anos vividos, com muita intensidade para alguns, e com um pouco menos de intensidade para outros.

Possivelmente as lembranças do primeiro dia de aula, quando entramos num universo tão diferente do que vivíamos até então, tomaram conta de nossa mente. As novas amizades que seriam feitas ali, os sonhos que estávamos depositando naquele ambiente acadêmico e a certeza de que sairíamos dali, profissionais que deixariam suas marcas no cenário da comunicação baiana (até nacional para os mais ousados). No final percebemos que só nos era permitido ter acesso ao conhecimento sobre o início do caminho, o fim era uma incógnita.

E as amizades? Juras de amor eterno, de que não haveria separação, de que a faculdade era só um pretexto para conviver com pessoas tão maravilhosas. Éramos tão ingênuos! Confidenciamos muita coisa, choramos, sorrimos. Alguns momentos foram de muita tristeza e, sem essas pessoas, teriam sido mais difíceis passar. Eu, particularmente, tenho imensa gratidão por algumas pessoas (elas sabem quem são) que me deram a mão em momentos cruciais. Mas o tempo foi passando e, se nos telefonávamos todos os dias, essas ligações foram ficando mais espaçadas: uma vez por semana, uma vez por mês, uma vez a cada três meses, uma vez... e nunca mais. Restaram apenas as lembranças, guardadas num cantinho gostoso e aconchegante do coração.

E os sonhos? Como eles estão hoje, um ano depois da concretização de um que abriria espaço para vários outros? Estamos nos permitindo sonhar como há cinco anos, quando acreditávamos com firmeza que eles eram irremediavelmente possíveis? Faço um convite a vocês: vamos parar um pouco para pensar nos nossos sonhos? Vamos parar para acreditar na vida como quando tínhamos 12 anos de idade e achávamos todas as coisas possíveis, como se fôssemos super heróis? Aliás, somos super heróis, sim. Somos super e somos heróis. Entramos na faculdade por isso “queríamos ser heróis diante da sociedade e do espelho”. Estamos nos permitindo ser esse herói?

Não estou querendo afirmar e nem negar nada, apenas convidando-os a pensar um pouco na vida. Às vezes nos endurecemos um pouco, profissionalizamo-nos em alguma coisa e perdemos a essência do herói que vive em cada um de nós. Um herói sorri, chora, namora, liga para os amigos, cuida do cachorro, acampa, toma sol, água de coco, vai ao cinema, dança, canta, enfim... é capaz de uma infinidade de coisas e o melhor de tudo: sempre se permite sonhar e ser feliz.

Com muito carinho,



Kátia (a última bolacha do pacote rs )

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Para sempre

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.



Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Último Ato

Começa com um foco de luz e, depois do sopro derradeiro, tudo se desfaz. O espetáculo toma um rumo inesperado, assim quis o Grande Dramaturgo. Agora os coadjuvantes passam a protAGONIZAR o horror, a trilha é mórbida e o cenário é monocromático. Os atores, pela primeira vez, não desejam o público, sentem nus e impotentes diante daqueles tantos olhares: uns indagadores, outros pesarosos, outros comovidos, outros marejados, outros indiferentes e tantos outros indecifráveis. O palco deixa de ser mágico, sem rotundas e sem bambolinas. O ritual ganha ares fúnebres e o figurino torna-se obsoleto. Ah, o figurino! Como é difícil escolher... nesse último ato, ele não tem mais propósito, ele não vai conseguir dar vida ao personagem. Tudo acontece ao contrário, mesmo.

Agora, os atores são os condutores da dor, e essa dor vai dilatando, dilatando, dilatando... Começa interna, como deve ser, aí vai ganhando proporções e se alastrando. Começa a irradiar, vai conquistando espaço, ampliando o círculo e contagiando o outro, depois outro, e outro, e outro.

A cortina se fecha, mas essa é de concreto e cimento, não permite um “mais um”, não existem os aplausos de pé. Na verdade, os aplausos eufóricos dão lugar ao silêncio. 1 minuto de silêncio... 10 minutos de silêncio... eterno silêncio.


PS: A ti, flores coloridas e luz violeta. Eternamente. 

Cárcere

Ela foi se levantando lentamente. Despertara após noites e mais noites imersa num sono profundo e opressivo. Lá, aquele ser sinistro e sombrio, meio corvo, meio salamandra, meio nuvem, meio fumaça, de olhos negros reluzentes e atentos, com o sorriso cínico, constante, impositivo e severo a apavorava. Ele sinalizava-lhe desgraças infindas. Ela, travava diante dele. Tudo lhe era assustador, mas assim como a noite é mais escura próximo ao amanhecer, foi-lhe necessário esse mergulho na obscuridade do seu ser para que a luminosidade, pudesse, enfim, lhe alcançar.

Ela observava cada gesto involuntário e cada movimento atentamente, não poderia perder nenhum momento, nenhuma articulação. Nenhuma vértebra poderia mover-se sem que ela examinasse atentamente e fosse-lhe revelados os prazeres e desconfortos desse percurso. Era a maior descoberta de sua existência, tudo era novo, gostoso, harmonioso. Ouvia sonetos, sinfonias e bachianas... deixava-se conduzir por elas. Sentia-se imensamente feliz por ter, enfim, recobrado a consciência e agora seria possível reaver o controle do seu corpo, antes encarcerado pelos moldes e pelos padrões.

Num ímpeto de esplendor nunca visto antes, ela materializou-se numa nova mulher. Despertara. Em nada lembrava aquela menina, cujo corpo receoso, discreto, tímido e des-assumido, não lhe permitia a graciosidade e a delicadeza nos bailes de todos os dias. Em nada lembrava aquela moça tolhida, re-caída e enrijecida que escolheu se confinar para justificar seus delineamentos e contornos diferentes das outras pessoas.

Agora, com consciência, ela observava sua amplitude, suas formas e suas texturas. Uma observadora de si própria que não pretendia conceituar nada, que não tinha intenção de ser nada (e nem de deixar de ser o que a natureza lhe propusera), apenas olhava-se atentamente, reconhecia-se, aceitava-se. Agora, longe daquela antiga penumbra inquebrável, aterrorizante e sem fluidez, ela podia ser a mulher que quisesse: bailarina, borboleta, passarinho, cata-vento, girassol, sol, lua, rio, mar... infinita.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Fundo do mar

(...) [sua vida é] um escrito amador, piegas e ridículo que eu amasso e jogo fora com medo de que, na minha posteridade, alguém descubra que um dia eu escrevi aquilo.  [palavras dele].

A pequenina ostra resolveu se fechar, proteger sua frágil e intocável pérola na imensidão e profundidade daquelas águas quentes que contrastam com as geleiras que ela encontrou na superfície [palavras minhas].

terça-feira, 2 de agosto de 2011

De Kelly Cyclone a Amy Winehouse

As semanas que se passaram foram um tanto surpreendentes (ou nem tanto) para nós baianos e para os demais “mundanos” também. Nossos ouvidos registraram inúmeros burburinhos sobre a perda de duas grandes damas: Kelly Cyclone, a chamada “dama do pó”, conhecida e admirada por grande parte da periferia soteropolitana; e Amy Winehouse, a “dama do pop”, diva e musa inspiradora de homens e mulheres do mundo inteiro que se renderam ao seu incontestável talento.
Pode não parecer (ou pode parecer, sei lá), mas essas duas têm muito mais coisas em comum do que supõe a nossa vã filosofia. Ambas eram jovens, carismáticas, idolatradas, amadas, polêmicas e fizeram de suas existências verdadeiros redemoinhos nesse “mundão de meu Deus”. Kelly Cyclone foi uma anti-heroína que caiu nas graças do público. Amy, também. Kelly Cyclone poderia até ter passado despercebida, mas foi abocanhada pela mira holofoteira e exagerada da imprensa baiana. Amy, só precisou existir para despertar a atenção dos reles mortais. Uma muito rica. A outra, muito pobre (e não menos célebre por isso).
Duas histórias que poderiam ter sido apenas duas histórias distintas, mas que tem um ponto de intersecção entre si e trazem consigo um retrato ordinário desse nosso tempo. Os anjinhos de papai e mamãe abandonaram suas auréolas (talvez numa tentativa equivocada de sair da matrix) e “foram com Deus” cedo demais. Talvez essas duas moças tenham sido vítima dos seus pobres e velhos coraçõezinhos. Talvez só quisessem “a sorte de um amor tranqüilo”. Talvez tenha lhes faltado uma dosagem maior de amor próprio. Talvez, apenas.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O segredo d'Ella

Depois de se humilhar fortemente e ser rejeitada pelo amado, Ella chegou em casa aos prantos. Ela já tinha se entorpecido o suficiente para não saber discernir entre o certo e o errado e todo um desejo inexplicável e pecaminoso tomou conta do seu corpo ao avistar o sobrinho, um adolescente de 14 anos (sim, a mesma idade com a qual Ella conheceu o coito). Não fosse o transtorno mental desse sobrinho, esse ato teria sido menos nefasto.
Ella tomou o sobrinho para o amor. O jovem não compreendia o que significava aquelas mãos que antes o acariciavam maternalmente, tocando-o de forma diferente, como ele nunca pudera imaginar antes. Aquilo lhe apavorou, mas o prazer sentido ao possuir aquele corpo, mesmo que involuntária e instintivamente, não lhe permitia abster-se daquele ato primitivo, indiscreto e antes ignorado pela sua mente cândida e inofensiva.
Quando Ella caiu em si, já não era mais tempo para voltar atrás. Estava feito. Agora restava-lhe arrastar a culpa por ter transgredido preceitos religiosos que lhe foram ensinados durante toda uma vida. Mas o pecado lhe trouxe um sabor não tão amargo, o prazer notado atentamente no corpo trêmulo daquele rapazote trazia-lhe calafrios imensuráveis. Aquilo era muito prazeroso e ela queria mais, mais e sempre mais. Ela sentia-se segura como nunca,  pois ele estaria sempre ali, nunca a rejeitaria (sua incapacidade mental não permitia isso) . Assim, durante cinco anos, essa foi a rotina d’Ella.

Ella

Ella ama alguém, que ama outro alguém, que também ama esse alguém amado por Ella. Se sentindo rejeitada pelo seu alguém, Ella traçou um plano infalível: ela seria de todos (e de ninguém). Assim ela leva a vida: seduzindo, atacando, querendo, conquistando. Ella tem caprichos, Ella tem libido, Ella leva à loucura, Ella é pura gostosura.
Ella é controversa, Ella dissimula, Ella tem candura... e um belo par de peitos.
Ella é guerreira, Ella tem sua beleza. Ella é um mistério, Ella é um caso sério.
Sua história tem encanto e é por isso, que eu a conto. Quem conhece essa pessoa e as poesias que ela entoa, sabe a complexidade que se esconde por detrás da mulher-loba-leoa.


Ella é uma “personagem” criada como parte do processo avaliativo do curso de teatro. Tudo começou assim: fomos orientados a observar uma pessoa qualquer da rua, uma pessoa que tivesse certa teatralidade no jeito de ser, de falar, de andar, etc. Após essa observação nós deveríamos nos transformar nessa pessoa (e foi aí que as coisas começaram a ficar difíceis). 
Não se trata de imitar, não se trata de criar um tipo, trata-se de compreender toda a complexidade dessa pessoa e traduzi-la em gestos, comportamento e vivências. Daí começou um trabalho árduo, gostoso e muito interessante de construção dessa personagem (construção corporal, comportamental/psicológica e social).
Tudo estava lindo. Peguei como inspiração uma pessoa que considero muito engraçada. Ela é feia (no sentido superficial e estético da coisa) e sempre olha para os homens daquele jeito bem fatal, querendo seduzi-los a todo custo. Sem contar que ela, literalmente, ataca os homens ao seu redor (isso eu só descobri depois). Com ela é assim: caiu na rede, é peixe.
Quando comecei a criar a complexidade para essa pessoa (e diferenciá-la das demais mulheres ousadas que existem por aí), eu entrei num mundo fascinante, estava sempre me perguntando os “porquês” dela e acabei descobrindo uma mulher solitária, psicótica e mal amada. Mas não é pouco “solitária, psicótica e mal amada”, é muito “solitária, psicótica e mal amada”. Ela moldou sua personalidade tendo como parâmetros sempre a beleza e o horrendo e, assim, consegue ser doce e encantadora ao mesmo tempo em que é capaz de apavorar qualquer cristão através de suas atitudes. Eu gostei muito de “criar” essa pessoa. Não que eu tenha criado “a esfera do dragão”, sei que não foi nada de mais, mas foi gostoso.
O próximo passo é levar essa personagem para a rua, sem que as pessoas da rua saibam que se trata de uma personagem. Agora é que vem o maior problema: é muito difícil e desafiador ter que fazer isso. Eu não sou sensual, eu não sou sedutora, eu não sou ousada e eu não paquero ninguém (tá, percebo que sou uma pessoa sem graça). Vocês podem se perguntar: mas não é esse o papel do ator? Um ator não tem que se transformar em tantas outras pessoas quanto forem necessárias?
Eu respondo que sim (meu caro leitor hahahaha) mas quando se observa do ponto de vista do expectador, as coisas se tornam mais sofríveis. Quando essa personagem está num palco, o público reconhece que aquilo não é real, então, tudo fica mais fácil. Mas, quando você deve criar uma situação cotidiana e verossímil onde o seu público também contracena contigo (sem saber de nada), o trabalho, antes tranqüilo, passa a se transformar numa coisa angustiante.
Já falei demais. Eu só queria falar um pouco “d’Ella” e quase escrevi um livro sobre a minha insegurança de atriz iniciante. Mas é assim mesmo. Não é nada fácil e, a cada dia, isso se torna mais perceptível (e sofrível) pra mim.

PS: Esta atividade faz parte da unidade em que estamos estudando o Realismo e as técnicas teatrais criadas por Stanislaviski.




terça-feira, 31 de maio de 2011

De repente, 30.


Ai meu Deus, chegou o dia. Estou eu, aqui, com 30 anos.
Parece que tudo foi ontem... há uma vívida lembrança da menina que se divertia pelas ruas de Alagoinhas querendo desbravar o mundo como se fosse possível viver todas as boas emoções com a maior intensidade nos poucos minutos em que lhe era permitido brincar na rua.
Como eu era feliz! E eu queria explodir essa felicidade correndo descalça com aquelas perninhas extra finas, com aqueles cabelos “de arapuá” pra cima e gritando com esta boca demasiadamente grande que Deus me deu, me importando somente com aquele ínfimo momento, no inocente desejo de que ele fosse infinitamente infinito (porque somente infinito seria pouco).
E na escola? Não esqueço a alegria pela qual fui tomada quando descobri que três mais três eram seis. Isso virou uma melodia cantada e dançada, harmônica e incessantemente, por onde quer que eu fosse. Era gostoso ver o sorriso orgulhoso da minha mãe, isso me fazia cantar mais estridentemente ainda que “trêêêêêês mais trêêêêêês são seiiiiiiissssss! trêêêêêês mais trêêêêêês são seiiiiiiissssss!”. Tudo era festa. Muito boba, eu era. E ainda sou.
A felicidade sempre esteve aqui, na palma da minha mão, sorrindo pra mim e me conclamando a possuí-la pra sempre. Acreditei nela com toda a força do meu coração e, assim, me apaixonei e me entreguei perdidamente à vida, insistindo em manter presente aquela menina magricela, cabeluda e bocuda, dos olhinhos tímidos e miúdos, que teima em ver o mundo como um gigantesco parque de diversões.
É isso mesmo. Eu me permito ser uma menina, eu gosto de ser uma menina e, como tal, tenho imensos e inalcançáveis sonhos, delírios, medos, inseguranças e receios. Ainda sou dengosa, chorona e birrenta, suspiro com o amor, idealizo o príncipe encantado (apesar de já ter o meu *_*), tenho medo dos fantasmas que surgem na tenebrosa escuridão e estou sempre reinventando meu mundo. 
Acho super estranho quando dizem que sou um mulherão. É como se estivessem falando de outra pessoa, é como se meu corpo estivesse caminhando sozinho, sem eu estar dentro dele. Hoje sou uma menina de 30 anos, amanhã de 60... mas sempre uma menina. E essa menina, Kátia Letícia, hoje, é uma mulher igualmente feliz, como era tempos atrás. 

 

domingo, 20 de março de 2011

Macabéas


Eu vô contá procês
A história dessas duas
As minina do interiô
Qui nascero viradas pra lua.

Pelo menos é assim qui elas pensa
E num sô eu qui vô dizê o contrário
Elas acha graça di tudo
E mesmo se tão na pió
Dizem que tão numa boa
E que sempre levam a melhó.

Istudá teatro elas foro
Do interior pra capitá
Um sonho há muito alentado
Numa grande história está a virá.

Cum mala, cuia e corage
Foro elas simbora
Alugaro um quartinho pra durmi
E sonhá com a boa vida
Que agora estava por vir.

Na lanchonete da cidade
Um suquinho foro tomá
Uma das macabéas disse logo:
- Aqui é caro, meu dinheiro num dá.

-Pára cum isso - dizia a outra
- Tu tá cum cara de fubá
Vê se melhora essa pustura
Senão, que a gente num é daqui, vão discunfiá.

Oxi, num tô nem aí
Quem quisé falá qui fale
Só sei qui vô virá artista
E isso num tem dinheiro qui pague.

Cheia de mala elas foro
- Pera, pera- dizia uma delas
Aqui tá muito pesado
Eu num posso cum isso não
Por causa do meu ciático.

- Vamo pidi pro sigurança guardá
Entrá assim na faculdade, num dá
Mas vai pegá mal a gente dizê
Qui aqui tão as coisa
Qui nós vai usá pra se recolhê.

Tem lençó, travissero e edredom
Tualha, creme dentá e batom
Tem calcinha, sutiã e hidratante
Tem absorvente e inté inxaguante
Purque ficá disprivinida
Seria uma coisa apavorante .

- Nós diz qui é “elemento de cena”
Vi o professo falá disso
Diz qui é coisa da aula
Assim num causa ribuliço.

O moço bunito vem vindo
Valei-me minha nossa sinhora
Meu Deus, tende misericórdia
Desse jeito ele num pode nos vê
O que é que nós faz agora?

Corre, vira de costa
É só o que dá pra fazê
É melhó qui ele num te veja
Senão, todas as chances cum ele tu vai perdê.

Ufa, ele se foi
Foi muito melhó assim
Só quero qui ele me veja no parco 
Usando um vestido cigano carmim.

Pra aula elas seguiro
Cum saco de pão na mão
E logo fizero furdunço
Falando pra todo mundo
Qui era fácil a adaptação.

Chegaro na sala de aula
E num cantinho se sentaro
A elas logo se ajuntô
Outro caipira que se dizia muito inturmado.

Logo de cara soltô uma pérola
E todos riam da sua cara
Mas ele nem se importô
E logo logo vortô pra casa.

Parece qui ele num intendeu
Qui falô uma grande abobrinha
Inté suas companhera riro
O que virô uma picuinha.

Inté qui tinha cuerência
O qui disse o pobre rapaz
Nem foi assim uma mintira
Mas é qui o povo da cidade num sabe
Que panela que muito mexe, angu vira.

Pocas e boas elas passaro
Durmiro no duro e no calô
-Assim eu num guento
Disse uma delas
- Vamo ali comprá um ventiladô.

Essa é a história
Das minina do interior
Tem muito pano pra manga
Aguardem, por favô.

Mas posso adiantá agora
Qui elas num são arredia
São inté tão carismática
Qui já viraro assunto
De aula de Sociologia.


Ela é bela


Ela baila, canta, dança
E, dessa festança, nunca se cansa
Tem na alma a leveza da criança
Que no quintal de casa pula e se balança

Ela vibra diferente
Tem uma felicidade sapiente
Pois seus olhos enxergam um mundo
Que não é o de muita gente

Ela vê a paz, o amor e o bendito
Vive entre o aqui e o divino
Quem convive com ela percebe
Que o mundo pode ser bem bonito

Eu estou falando dela
Que é bela, que é bela
Que é Iza, a bela
Isso mesmo: I-za-be-la!

A bela sorridente e atraente
Que com pureza e delicadeza
Encanta o coração de toda a gente.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Oração à Grande Mãe

Mãe Nossa, que estais no céu, na terra e em toda a parte,
Bendita seja a Tua beleza e a Tua abundância,
Traz aos nossos corações a chave que abre o portal do amor,
Que cada um de nós possa respeitar os caminhos de todos os seres
E o exercício do perdão faça parte de nossa existência
Que possamos acolher em nossa mesa aqueles que querem partilhar conosco
O alimento sagrado.

Mãe Nossa, que estais no céu, na terra e em toda a parte,
Que o Propósito maior guie os nossos passos,
E que a batida dos nossos corações possa se unir ao toque do coração da terra
E assim possamos pulsar em um só ritmo.
Que as estrelas nos guiem nas noites escuras
E que o sol brilhe intensamente em nossos corpos,

Hey Grande Espírito,
Hey Grande Mãe,
Hey Xamã.


Esta oração acompanha a Xamã Alba Maria em todos seus momentos. Há muitos anos, em um traço do tempo, tarde chuvosa e silêncio profundo surgiu a inspiração, palavra a palavra. Com a inspiração veio a responsabilidade de transmiti-la em todos os contextos onde houvesse espaço para tal. E assim foi feito.

Atualmente traduzida em oito idiomas, esta oração transformou-se em dança e juntamente com outras preces do mundo, fez parte de uma grande corrente de oração pela Paz na Alemanha e na Índia.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Apenas um desabafo

A humanidade está doente. Estamos reproduzindo, sem o menor propósito, conceitos que já não nos cabem mais. Precisamos parar para refletir no real sentido da vida, da existência, da solidariedade, da generosidade e da compaixão.

Fazer julgamentos a todo o momento parece que é a bola da vez. Estamos numa tremenda severidade com nossos irmãos, no momento que não nos abrimos à compreensão, ao entendimento, ao respeito pelo que é diferente. Que bom que existe o diferente, graças a Deus que existe o diferente, o ponto de vista adverso, novas formas de viver, de ver a vida, de levar a vida, de ser feliz...  

O universo, a natureza, está clamando por mudanças de posturas, por uma revolução, por uma transformação cósmica que, pelo visto, é o grande desafio para essa humanidade despreparada. Tenho a sensação de que estamos numa prisão tão profunda, que o tão esperançoso "fim do túnel" não é o suficiente para encontrar a luz, parece que precisamos ainda cavar mais um pouco, encontrar uma tal de passagem secreta, descobrir palavras mágicas, sei lá.

Até quando viveremos nesse abismo? Estamos num momento de ruptura, está tudo muito claro. Precisamos romper com determinados fanatismos para podermos alcançar, pelo menos, um "punhadinho" da tão falada evolução. Essa nossa "roda de luz", chamada de vida, está em constante movimento e precisamos equilibrá-la, pois se não tivermos conectados e harmonizados com o cosmos, nosso corpo, nossos sentimentos, nossos pensamentos e nosso espírito padecerão. E, então, quem poderá no salvar?


Dedicado a Rafa. Em agradecimento.

Fotografia: arte ou ofício?

O que você faria se estivesse no lugar errado, na hora errada? Ou ao contrário, no lugar certo, na hora certa? Será que um fotógrafo deve, friamente, registrar um momento, seja ele qual for? Ou a sensibilidade e as emoções devem falar mais alto?...

Esse texto faz referência ao curta-metragem "A fotógrafa". Leia-o, na íntegra, no blog de Jéssica.

Podem espiar à vontade.

Invente, tente. Faça um carnaval diferente

Para quem gosta de experimentar coisas novas, está aí uma boa pedida.

Xamanismo: Fortalecendo a Força Viva

Entre os dias 05 e 08 de março, os quatro elementos serão reverenciados em rituais dedicados ao auto-conhecimento e fortalecimento espiritual. Pacote inclui 4 diárias de hospedagem e alimentação completa. Veja programação abaixo.

Informações: (71) 3396-9810/ 9156-9882

domingo, 20 de fevereiro de 2011

E que venha o pote de ouro


Estou vivendo um momento de intensa busca espiritual, pois o meu coração diz que o poder que me foi concedido nesta vida só será benéfico a mim e às demais pessoas que me rodeiam se eu conhecê-lo em profundidade e aprender a me livrar das amarras que impedem meu espírito de se equilibrar e, assim, poder evoluir. Sei que preciso me libertar da vaidade, do orgulho e de tantas outras armadilhas do meu ego que impedem a minha felicidade, mas ainda não consegui me fortalecer o suficiente para compreender a vida e as minhas limitações e, a partir daí, poder transformá-las. Busco a difusão do Lótus Divino fluidificado no meu corpo espiritual. Busco a libertação. Busco o caminho. Busco o fim do arco-íris.

Em nome da Divindade Maior. Amém!

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Ao menino-deus

Dindí

Céu, tão grande é o céu
E bandos de nuvens que passam ligeiras
Prá onde elas vão, ah, eu não sei, não sei

E o vento que toca nas folhas
Contando as histórias que são de ninguém
Mas que são minhas e de você também

Ai, Dindí
Se soubesses o bem que eu te quero
O mundo seria, Dindí, tudo, Dindí, lindo, Dindí

Ai, Dindí
Se um dia você for embora me leva contigo, Dindí
Olha, Dindí, fica, Dindí

E as águas desse rio
Onde vão, eu não sei

A minha vida inteira, esperei, esperei por você, Dindí
Que é a coisa mais linda que existe
É você não existe, Dindí

Deixa Dindí, que eu te adore, Dindí


Tom Jobim

Bahia: iniciativas pioneiras do Estado para um Desenvolvimento Territorial Sustentável


A Política de Desenvolvimento Territorial é fruto do esforço do Governo Federal para garantir desenvolvimento que leve em consideração as especificidades sócio-econômicas, culturais e geográficas das diversas partes de um país absolutamente plural e diverso, como o Brasil. É o exercício contínuo de promover a qualificação de comunidades e entidades representativas da sociedade civil, com o objetivo de fortalecer o seu poder de autogestão e a co-participação na formulação de políticas públicas.

A partir de 2007, o Estado da Bahia se apropriou da política territorial. Para isso, buscou ajustar a estrutura da máquina pública, estabeleceu um modelo de gestão inovador baseado em práticas democráticas e participativas e criou mecanismos de diálogo social, além de instrumentos importantes que foram institucionalizados e incorporados na gestão.

A construção de uma política de participação social pressupõe uma tarefa desafiadora. O Governo do Estado está buscando conciliar os macro-objetivos econômicos do Estado com os interesses e as necessidades da sociedade civil organizada, o que estabelece um novo padrão de desenvolvimento e um modelo de gestão que busca o rompimento da cultura patrimonialista e clientelista na Bahia. Nesse caminho, fez-se necessário a realização de estudos técnicos e processos permanentes de diálogos com diversos segmentos da sociedade, a fim de garantir estratégias de desenvolvimento e gestão da política territorial na Bahia.

O marco inicial desse processo foi a realização, em 2007, do primeiro Plano Plurianual Participativo (PPA-P) do Estado, que se destacou pela experiência de consulta pública através de 17 plenárias que homologaram a divisão da Bahia em 26 Territórios de Identidade. Na oportunidade, criou-se o Conselho de Acompanhamento do Plano Plurianual (CAPPA), que tem a finalidade de monitorar e aconselhar o Governo quanto à execução do PPA e propor às instâncias governamentais a adoção de medidas e ajustes necessários para a implementação do Plano Plurianual.

Ainda em 2008, o Governador sancionou a Lei 11.173, que cria o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CODES), cuja função é debater e propor políticas públicas voltadas ao desenvolvimento sustentável do Estado. O Codes é mais um canal para o exercício do diálogo, caracterizado pela prática integradora que fortalece a nova relação entre Estado e Sociedade.

Em 2010, a realização dos “Diálogos Territoriais”, em parceria com o CAPPA, demonstrou o entendimento do Governo sobre a necessidade de consolidar a política territorial. Compreendeu-se que era preciso avançar qualitativamente, no sentido de demonstrar e debater, presencialmente, o nível de execução das ações do PPA, além dos avanços e desafios que enfrentam a máquina pública.

Os “Diálogos Territoriais” foram, na prática, o retorno do Governo Estadual aos Territórios. Caracterizou-se por uma metodologia inovadora que apresentou um balanço da execução das ações previstas no PPA em vigência. Foram realizadas plenárias nos 26 Territórios de Identidade contemplando os colegiados territoriais, representantes de entidades, movimentos sociais, prefeituras e órgãos públicos.

Para reafirmar a importância dos instrumentos de controle e participação social e a incorporação desse modelo de desenvolvimento, o Governo do Estado criou, através do decreto n.º 12.354, de 25 de agosto de 2010, o Conselho Estadual de Desenvolvimento Territorial (CEDETER). Este se constitui em um fórum permanente de caráter consultivo e composição paritária entre Poder Público e Sociedade Civil, que tem como finalidade subsidiar o planejamento e as ações do governo nos 26 Territórios de Identidade.

A criação do CEDETER é uma ação pioneira no país, sendo a Bahia o primeiro Estado a institucionalizar um instrumento territorial avançado do ponto de vista do empoderamento social e da gestão participativa. Com ele, os Colegiados Territoriais ganharam reconhecimento institucional. Essa iniciativa consolida o modelo e estabelece novas bases para o planejamento e execução de políticas públicas que fortalecem a inclusão e a democracia participativa nos Territórios de Identidade.
Essas e outras iniciativas têm levado o Estado a ocupar um espaço de destaque no cenário nacional e internacional. Nos fóruns de discussão de política territorial, especialistas, representantes de movimentos sociais, consultores e outras lideranças apontam a experiência da Bahia como um caso que precisa ser reverenciado e estudado.

A definição dos Territórios de Identidade como unidades de planejamento, com capacidade de organização, formulação, articulação e execução de políticas estabeleceu uma nova dinâmica na Bahia, o que está proporcionando o amadurecimento e qualificação dos movimentos sociais e das estruturas de Governo, bem como o aprimoramento de técnicas de gestão capazes de contribuir para a superação das desigualdades regionais, econômicas e sociais no Estado. Esse processo denominado pelo Governador Jaques Wagner como a Revolução Democrática, traduz a inversão de valores e prioridades em um Estado que vem realizando os ajustes necessários para a construção de uma Bahia de Todos Nós.



Marília Mattos
Secretária Executiva do CEDETER - Seplan


PS: Não é por nada não, mas é minha prima, tá?