Ela começou a se apaixonar muito
cedo. Aos sete anos fez a primeira cartinha ao seu primeiro amor platônico.
Essa carta nunca chegou às mãos dele, era simplesmente mais um dos recursos que
ela usava para ficar fantasiando histórias improváveis. Cuidava dela com muito
esmero. Lia e relia, perfumava, fazia marcas de batom, escondia. Ele era um
coleguinha da escola que ela só atrevia a se corresponder por cartas clandestinas
que ele sequer saberia da existência um dia. Ela nunca falou com ele e nunca
permitiu que seus olhos se cruzassem. De lá pra cá, foram muitos os amores e
muitas as fantasias. Se apaixonou por um professor de geografia porque ele
vivia sorrindo, foi com ele que descobriu a singeleza de um belo sorriso
masculino. Teve também outro colega da escola que fazia desenhos lindos.
Aqueles desenhos faziam dele, aos seus olhos, o menino mais inteligente e
sensível de todos. Ah, se apaixonou também pelo irmão da sua melhor amiga, pelo
menino de olhos azuis que comprava pão na mesma padaria que ela, pelo filho da
diretora da escola e por tantos outros que nunca lhe deram bola. Hoje, mulher
feita, mantém-se apaixonada e, mais do que isso, é alguém que se entregou de
corpo e alma às fantasias do amor. Sim, fantasias, pois amor, na infância,
sempre foi o seu salvador. Salvava-lhe das dores e dos medos de uma maneira muito
simples: na hora de dormir, pra não pensar nos fantasmas que lhe amedrontavam
no apagar das luzes, ela pensava nos amores. Se entregava às fantasias e se
imaginava sempre num lugar muito lindo, acompanhada de um belo garoto que lhe
fazia juras de amor, lhe acariciava o rosto e lhe beijava apaixonadamente. Era
o seu exercício de fuga predileto e funcionava muito bem. Ela continua a
mesma. O amor afugenta-lhe da vida insossa, racional e medíocre. As chagas do
tempo não afetaram seu coração e, talvez, por isso, ele não saiba ainda como se
comportar. Ama como quando tinha doze anos. Para ela, o amor é cheio de
garantias. Sabe aquelas histórias de que “o amor verdadeiro dura para sempre”; “quando
se está amando, nada na vida pode dar errado”; “a pessoa escolhida pelo coração
é aquela que poderemos contar pra sempre”? Pois é, ela acredita nisso tudo. Ela
não sabe amar de outra forma, ainda não aprendeu. Acredita que já encontrou sua
alma gêmea e que seguirão de mãos dadas rumo ao infinito. Ela é dessas moças
que acha que, sem amor, nada somos. Ela é dessas que se completam no amor e
para o amor. Ela é a moça do amor sublime, fiel e inocente. Ela suspira pelos arquétipos
shakespearianos, Romeu e Julieta. Sim, ela acredita que o amor enobrece quando
chega e que destroça a alma quando se vai, corroendo o coração e, com ele, todo
o sentido da existência. Ela não toma jeito mesmo, continua escrevendo cartas
de amor. Esta é mais uma.