O corredor era longo e estreito, um lugar que lhe remetia àqueles estranhos filmes de suspense que assistia na infância. Cada passo lhe deixava mais aflita. Sentia-se, ao mesmo tempo, ansiosa e apreensiva com o encontro que estava prestes a acontecer. Tentava manter-se tranqüila, respirando fundo e pausadamente. Apertava as próprias mãos que choravam todo o seu temor. O coração doía, sendo destroçado por um sentimento que ela não sabia decifrar, apenas sentia e sentia-o muito forte, imponente e violento.
Agora ela estava lá. Assustou-se com uns ruídos estranhos que ouvia, mas isso ficou pequeno diante do que seus olhos viram. Não era ele! Onde ele estava? E agora? Como agir? Seu coração disparava mais a cada segundo que se mantinha diante daquele espectro, como se fosse explodir. Era tudo muito terrível. Doloroso. Lutuoso. Ela sentia um desejo absurdo e descontrolado de atirar-se sobre ele e, assim, doar-lhe o máximo do seu próprio calor e da sua própria pigmentação. Era a única forma que ela imaginava trazê-lo de volta.
De repente aquele ser abriu os olhos e ela teve a esperança de poder reconhecê-lo, encontrá-lo confinado por ali, mas foi inútil. Suas íris estavam desbotadas, sem vida. Ela fitou-o com muita intensidade, numa tentativa inocente de devolver-lhe o mar que durante toda uma vida foi refletido ali. Ela esperou uma reação, que não veio. Vendo-se obrigada a dissimular qualquer sensação desconfortável, ela sorriu. Ofertou-lhe a única coisa sincera que poderia ter naquele momento. Acreditou que seu sorriso poderia dar a ele leveza e confiança, capazes de tirar-lhe daquela prisão. Ela queria deixá-lo feliz.
Segurou aquelas mãos geladas, contendo toda a emoção, e agradeceu-lhe bem baixinho. Não sabia se ele a escutava, mas ela não queria perder a última chance de dizer o quanto ele era importante para ela. Cada palavra saía com um sorriso e um olhar firme, fazendo dela uma pessoa mais corajosa. Fazendo dele, eterno diante dela.
Ao meu mestre, Marco Antonio Martins Barreto.