segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Ele já não estava mais lá

O corredor era longo e estreito, um lugar que lhe remetia àqueles estranhos filmes de suspense que assistia na infância. Cada passo lhe deixava mais aflita. Sentia-se, ao mesmo tempo, ansiosa e apreensiva com o encontro que estava prestes a acontecer. Tentava manter-se tranqüila, respirando fundo e pausadamente. Apertava as próprias mãos que choravam todo o seu temor. O coração doía, sendo destroçado por um sentimento que ela não sabia decifrar, apenas sentia e sentia-o muito forte, imponente e violento.

Agora ela estava lá. Assustou-se com uns ruídos estranhos que ouvia, mas isso ficou pequeno diante do que seus olhos viram. Não era ele! Onde ele estava? E agora? Como agir? Seu coração disparava mais a cada segundo que se mantinha diante daquele espectro, como se fosse explodir.  Era tudo muito terrível. Doloroso. Lutuoso. Ela sentia um desejo absurdo e descontrolado de atirar-se sobre ele e, assim, doar-lhe o máximo do seu próprio calor e da sua própria pigmentação. Era a única forma que ela imaginava trazê-lo de volta.

De repente aquele ser abriu os olhos e ela teve a esperança de poder reconhecê-lo, encontrá-lo confinado por ali, mas foi inútil. Suas íris estavam desbotadas, sem vida. Ela fitou-o com muita intensidade, numa tentativa inocente de devolver-lhe o mar que durante toda uma vida foi refletido ali. Ela esperou uma reação, que não veio. Vendo-se obrigada a dissimular qualquer sensação desconfortável, ela sorriu. Ofertou-lhe a única coisa sincera que poderia ter naquele momento. Acreditou que seu sorriso poderia dar a ele leveza e confiança, capazes de tirar-lhe daquela prisão. Ela queria deixá-lo feliz.

Segurou aquelas mãos geladas, contendo toda a emoção, e agradeceu-lhe bem baixinho. Não sabia se ele a escutava, mas ela não queria perder a última chance de dizer o quanto ele era importante para ela. Cada palavra saía com um sorriso e um olhar firme, fazendo dela uma pessoa mais corajosa. Fazendo dele, eterno diante dela.


Ao meu mestre, Marco Antonio Martins Barreto.

8 comentários:

  1. querida Kátia,

    Feliz de você que consegue transformar em palavras tão belamente arranjadas o sentimento de dor. Nós, professores, devemos ter esse desejo, em alguma medida, de continuar nas pessoas a quem supostamente ensinamos algo e de quem certamente aprendemos muito. Pense nele como alguém que continua não só nas filhas, mas nos muitos alunos com quem ele partilhou o muito que sabia e em quem ele despertava esse carinho. Ontem deu pra ver o quanto ele é querido. Porque o amor, querida, eterniza as pessoas. E é por isso que não podemos deixar de dizer o quanto amamos às pessoas que amamos, enquanto elas estão aqui para poder nos escutar. Sorte sua, Kátia, que tem tanto amor pra dar e não tem vergonha de senti-lo e principalmente de demonstrá-lo. Essa é uma capacidade que você tem e que deve valorizar muito, porque é essa capacidade que faz você ser essa pessoa tão linda e tão querida. Sorte de quem está perto de você. Sorte minha. um beijo.

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    1. Alex, ele continua em mim. Você vive em mim. Sorte minha.

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  2. Quando nos Deparamos, com esses fatos...um turbilhão de sensações vibram dentro do ser. Ate poucos dias atras, lembrei-me das doces e firmes palavras desse mestre, aconselhando-me no momento mais difícil que passei. Ele foi sim um mestre.

    Fez discípulos!

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  3. pego carona nas palavras de alex: vc não se envergonha de sentir e demonstrar amor. sempre procurei, timidamente, aprender isto contigo, e prossigo.

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    1. Fico até sem jeito de ler isso de alguem como você, Rafa rsrs

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  4. "...sobre o que não se pode falar... é mais sábio se calar..." parafraseano um filósofo alemão que conheci através de Marco...

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