sábado, 11 de agosto de 2012

Um pequeno trecho daquela história


Já estava, há horas, envolvido em pensamentos que o faziam um mero refém dos próprios sentimentos e não via mais sentido em estar ali, inerte e aprisionado. Num súbito arroubo de paixão, levantou-se, desceu as escadas, atravessou a cidade e foi ao encontro dela. Bateu à porta. Eram batidas descompassadas, ora eufóricas, ora lentas. Ela, sonolenta, não compreendeu se aquele barulho era real ou se estava sonhando. Ele insistiu nas batidas, até que ela se deu conta do que estava acontecendo. Seu coração acelerou, faltou-lhe ar e as mãos tremiam. Levantou-se, abriu a porta e lá estava, diante dela, o céu. A imensidão daquele olhar transportou-a para a parte mais elevada do universo, onde todas as coisas eram possíveis e toda a doçura estava concentrada. Ela podia sentir, nos lábios, o gosto adocicado que lhe fez menina durante muito tempo.
Olharam-se. Olharam-se bastante. As mãos, apressadas, conseguiram se encontrar. Elas se tocavam, se apertavam e se entrelaçavam, enquanto todas as outras partes daqueles corpos permaneciam em silêncio. E, assim, ficaram por muito tempo, enquanto os corações se encorajavam a se deixarem ouvir. 

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