terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Clandestina




Foi assim que me senti hoje. Bem que eu queria ser uma clandestina mais fashion, tendo minha história contada em rede nacional, mas fiquei bem longe disso. Contar-lhes-ei (!) o que se sucedeu:

Foram quase três horas de viagem de casa até o local onde fui fazer um teste para um filme (pra quem não sabe sou atriz, dançarina (de lambada), cantora (de lambada) e compositora (de lambada), além de modelo e manequim). Escalei pelourinhamente (como diz Abelha) a ladeira do Carmo para, quando chegar lá, descobrir que era um pouco mais abaixo (o sol estava escaldante um pouco antes das 9 da manhã). Chegando nesse “um pouco mais abaixo”, tinha uma escadaria imensa (a escadaria do Passo). Já que era o que me esperava, então subi. O mais legal de tudo foi perceber, ao chegar lá em cima, que eu poderia ter ido de lá mesmo do pico da ladeira, apenas virando a esquina, sem precisar voltar para “um pouco mais abaixo”.

Cheguei ao meu destino, esperei um pouquinho, fiz o teste e fui embora. Agora tudo estava mais fácil, pois, “pra descer, todo santo ajuda”. Caminhei um pouco (leia-se bastante), até a Estação da Lapa e depois mais um pouco até abaixo da Estação da Lapa (não sei o nome daquele lugar) para esperar o meu motorista particular me pegar. Para o meu desespero, havia uma manifestação de estudantes contra o aumento da passagem de ônibus em Salvador. Agora, me respondam uma coisa: tem cabimento aumentar o preço do transporte público de Salvador? Rai ai... Deveria aumentar a vergonha na cara dos empresários e dos governantes, isso sim.

Foi aí que começou o meu martírio (na verdade, ele se consolidou porque tinha começado às 6 da manhã). O sol estava muito forte, era quase meio-dia e não tinha nenhum motorista particular me esperando. Nem unzinho sequer. Eles ficam todos concentrados próximo ao ponto, mas meus olhos não conseguiram captar aquele carrão enorme branco, com uma tarja azul e três letrinhas vermelhas na lateral. Quanto desespero! E agora? Diante daquela multidão, como eu faria pra tentar a possibilidade de descobrir onde se encontravam? Como eu voltaria para a minha terrinha? Perguntei a um agente de trânsito se ele sabia onde estavam os motorista particulares que iriam para Camaçari e ele, prontamente, me respondeu: “tá tudo parado aí”. Dã. Isso eu estava vendo.

Eu super estava apoiando a manifestação. Mas eu super não estava apoiando hoje, somente naqueles minutinhos. A minha dualidade geminiana estava totalmente manifestada, numa pegada Rute e Raquel. De um lado, Rute, achando tudo lindo, achando muito justo que os estudantes fossem pra lá reclamar daquele despautério. Do outro, estava Raquel, louca para que acabasse logo porque estava com sede e com fome. Mas aí voltava Rute, lembrando dos tempos de outrora, tempos estes que vivem apenas nos meus delírios, nas minhas alucinações... e no meu desejo de ter vivido os tempos áureos das grandes revoluções estudantis. Rute me fazia sentir vontade de ir para o meio, pintar o nariz (como eles estavam) e fazer coro com eles. Mas Raquel não agüentava mais o sol e a impotência por não saber como chegaria em casa, então, rezava para que eles liberassem logo as vias, que dessem o recado e fossem embora. Quanto mais o sol apertava o juízo, mais a ira de Raquel aumentava. Logo ela me fazia lembrar que tinha saído de casa apenas para sonhar, mas tudo o que tinha conseguido foi passar uma manhã de cão. Vida de artista não é nada fácil. De aspirante, então, nem se fala. Foi aí que lembrei de Clandestinos.

Chegou uma hora que Rute e Raquel começaram a se fundir e Rute começou a ficar com raiva. Na verdade, a raiva que Raquel estava da situação se transmitiu para Rute que ficou com vontade de bater em duas mulheres que reclamavam da manifestação. Elas diziam: “não sei pra que isso, só pra fazer a gente ficar aqui nesse sol. Eles deveriam fazer isso nas empresas de ônibus, quebrarem tudo por lá e deixar a gente em paz”. Juro que elas disseram isso. Tudo bem que Raquel tava pensando mais ou menos por aí, mas Rute falou mais alto e eu fiquei com raiva daquelas duas. 

E, no meio da multidão e da confusão, eu não sabia mais de nada, nem mesmo quem eu era. Saí caminhando feito uma doida até que cheguei num lugar que passou um motorista particular para Simões Filho. E foi pra lá que eu fui. Clandestinamente...


Beijos e até mais...

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