quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Eu me derreto toda II

... De ver teu corpo num pano cigano e sentir o teu cheiro que mora nas abas do meu paletó.
De quando eu, todo platéia, vejo da cama quando tu vagarosamente te pintas com cores, com cores de quase luxo e, diante da mentira do espelho, és Narciso e és Orfeu.
De te ver abrir as portas do armário e tirar dele tuas armaduras de guerra dizendo:
- O azul ou o vermelho? Qual te faz mais gosto?
Bem... decerto que o azul era por demais decotado, mas o tom era doce e compadecia, já o vermelho, como todos sabemos, tinha mangas rendadas e compridas, mas a cor denunciava todo e qualquer pecado, e ainda que todas as noites me fizesse maquinalmente escolher entre os dois, surgias sempre da pequena cabina com o velho vermelho satânico e desbotado.
E assim passariam as tuas noites. Tu, iludida, a me fazer de tolo. Eu, o tolo que querias, pediria-te apenas os olhos de fúria emprestados. Sim, Ana, os pequenos olhinhos de fúria, para que, com eles, eu fizesse toda sorte de gozo, para que, com eles, eu me ressarcisse na noite e no tempo de tua ausência.

De Vicente à Ana.
Felipe Massumi. 
Ai, ai... (muitos suspiros)

PS: Gênio, aos 17 anos.

Um comentário:

  1. Alguém sabe como eu encontro esse menino? Face, insta? Sei lá, sou mto fã dese poema desde que eu era adolescente!

    ResponderExcluir