domingo, 2 de janeiro de 2011

Manifesto anti “eu te amo”

O indivíduo é resultado de um processo sócio histórico. O modelo social é capaz de ditar o modo de falar, de pensar e de agir deste indivíduo. Desta forma, a sociedade cria seus modismos, que surgem quando alguma coisa se faz “necessária” e “imprescindível” num dado momento. Assim, existe a roupa da moda, o sapato da moda, o celular da moda e as atitudes da moda. Para o meu desespero, a moda atual é a do amor. Está na moda dizer EU TE AMO!
É assim que acontece: Conhecemos uma pessoa legal, divertida, passamos o fim de semana descontraído e, de repente, sem mais nem menos, surge um “eu te amo”. Minha nossa, quanta carência! Essa pessoa se torna importante, especial, traz para nossa vida algo que a gente nunca viveu (todas as pessoas nos trazem experiências novas, basta observarmos!) e pronto, o amor se instaurou! De repente, é um “eu te amo” pra lá, um “eu te amo” pra cá e o amor vai perdendo o sentido. Estou saturada desta da banalização do amor.
Que saco isso! Amor é construção, é entendimento, é preenchimento verdadeiro e o mais importante, é maturidade... Estamos vivendo o amor vazio, que sai da boca por ser bonito, por fazer da gente pessoas boas “capazes de amar”, mas ele não está saindo do coração e sim da imagem narcisista que precisamos manter. O fato de a gente gostar, querer bem, ajudar, viver coisas legais e admirar uma pessoa não significa que amemos essa pessoa.
É importante que deixemos claro às pessoas a nossa admiração, respeito, carinho..., mas amor é convivência, é entrega, é uma coisa muito sublime que não deve mais ser tão prostituída. Pelo amor Deus, vamos parar de amar! Se a gente não se der conta disso agora, daqui a alguns anos a essência desse sentimento estará perdida e aí, o que será de nós? Sujeitos [mais] insatisfeitos, [mais] carentes e menos, bem menos amados!
Não pretendo definir aqui o que é o amor, quem sou eu pra isso, pretendo apenas levar à reflexão das nossas ações (será que elas condizem com as palavras?) Será que estamos sempre por perto das pessoas que dizemos amar? Nas horas ruins também? Observamos nossos amigos? O que o silêncio deles pretende dizer? Percebemos quando eles estão tristes precisando do nosso apoio? Percebemos o quanto nossas palavras de julgamento podem feri-los e machucá-los? Todos se amam o tempo inteiro, mas o amor acaba logo que surge um desentendimento, aí todos os defeitos das pessoas começam a vir à tona... não somos capazes de perdoar falhas, de aceitar as pessoas do jeito que são e aí saímos desesperados à procura de outra para amar, pra ser importante, especial e trazer algo que nunca vivemos antes. O amor não é descartável, sentimento não tem botão “liga/desliga”, ou ele existe ou ele não existe. É muito simples. E na minha humilde opinião, estamos na onda da moda e, como o próprio termo sugere, um dia acaba.  O “eu te amo” que proferimos indiscriminadamente em todos os momentos para todas as pessoas esconde uma necessidade muito grande de sermos amados e, a sua leitura pode ser facilmente traduzida por “me ame, pelo amor de Deus”. É uma busca desesperada nossa para suprir a falta de relações verdadeiras e, principalmente, do amor próprio.
Não estou querendo afirmar que é proibido dizer “eu te amo”, apenas não precisamos nos enganar com relações vazias em que não vivemos e nem sentimos a plenitude do amor. Vamos perceber que ele se reduziu a uma palavra corriqueira. Entre os nossos “bom dia”, “obrigada”, “como vai você?” “que bom que está aqui”, não precisamos soltar um “eu te amo”, pois ele vai muito além de meras palavras. O amor é para ser sentido!



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